Retrospectiva parcial de 2014

Então, chegamos a mais um fim de ano. Muita gente vai dizer “grande coisa, isso acontece todos os anos, e tudo vai se repetir como sempre”. E em parte é verdade. Vai haver o show do Roberto Carlos, na Globo; pessoas vão se reunir com os familiares na noite de 24 para fingir que se amam; uns dias antes os consumidores vão inundar as lojas para comprar coisas inúteis para presentear colegas que mal conhecem. Tudo igual como era antes, já dizia o rei global.

Aí eu respondo, tudo bem, os festejos natalinos não foram inventados para pessoas criativas. Quando chega essa época, a gente tem a impressão que, nos outros trezentos e poucos dias que se passaram, o povo não fez outra coisa a não ser esperar o toque dos sinos que anunciam o aniversário do salvador. Mas em 2014 aconteceu muito mais do que a espera pela troca de presentes.

A bem da verdade, pode-se dizer que o ano começou em junho, mais precisamente no dia 12. Não por ser o dia dos namorados, apesar de o brasileiro ser um eterno apaixonado que acredita no amor romântico, o tipo que ainda manda flores. Não. Pra quem já esqueceu, 12 de junho foi o começo da tão esperada e desesperada Copa do Mundo no Brasil. Aquele evento que metade dos brasileiros, os otimistas, torciam para ser um sucesso, e a outra metade, os agourentos, previam num retumbante fracasso. E os primeiros seis meses se passaram naquela ansiedade, uns dizendo “não vai ter copa”, outros, disfarçando o nervosismo, sonhando om o hexa. Pra ser bem sincero, não lembro se o noticiário nacional do período se ocupou com alguma coisa além das obras de infraestrutura para o campeonato. Ficariam prontas? Não ficariam? O Brasil ia fazer bonito fora do campo ou ia dar vexame? Sim, porque dentro do campo ninguém duvidava que a seleção brasileira seria uma anfitriã que honraria a tradição da camiseta.

Mas então, com poucos dias de festa o êxito já era inquestionável. A organização do torneio começou a receber elogios do mundo inteiro, calando a boca dos pessimistas; os turistas se deslumbravam com as maravilhas das terras brasileiras e os brasileiros babavam pela beleza das turistas, e tudo acabou muito bem fora do campo. Dentro do campo… bem, isso todo mundo lembra.

Porém, quis o destino que ano de copa do mundo seja também de eleição para presidente no Brasil. Aí começou a segunda parte deste 2014 tão cheio de emoções. Uma disputa com uma favorita, que corria o risco de entrar numa fase de marasmo com final previsível. Mas aí, uma lesão gravíssima tirou de campo um dos atletas, que precisou ser substituído na última hora. A substituta, uma competidora da reserva, que tentava se apoiar numa rede de pouca sustentabilidade, de repente, despertou o entusiasmo da torcida, que acreditou ser ela a salvação daquele jogo. Acontece ainda que a favorita do certame tinha cometido algumas faltas não marcadas e por isso recebia vaias e xingamentos da arquibancada, uma legião de desafetos, que apostavam tudo no adversário, qualquer que fosse ele. Então, aproveitando a euforia causada pela entrada em cena da nova antagonista, os simpatizantes do inimigo organizaram uma claque formada por todos os descontentes e passaram a cantar em coro alguns hinos de louvor ao novo escrete. Porém, com poucos minutos em campo, viu-se que a nova promessa de uma disputa acirrada não tinha fôlego para correr e nem aguentava divididas de bola muito fortes, chegou inclusive a fazer cara de choro em alguns momentos.

Os apostadores, então, voltaram suas fichas para o preferido anterior, e tentaram fazer dele um atleta cheio de técnica e experiência. Tudo inútil, o jogo acabou como se previa desde o começo.

Terminada mais essa etapa, o Brasil viu-se alarmado por notícias de corrupção. Na Petrobras, no metro de São Paulo, petrolão, trensalão. Mas aí é que nem papai Noel e show do Roberto Carlos: todos os anos tem.

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