Futebol e Covid

Sobrevivemos à Covid e à Seleção Brasileira, seguiremos em frente, de cabeça erguida, confiantes nas próximas vitórias, mirando o Hexa e a vida saudável, porque contra o vírus da derrota ainda não inventaram uma vacina.

Vou mudar um pouco o rumo dessa prosa, deixar a política de lado. É que no domingo dia 06/12/22, enquanto a Seleção Brasileira descansava para encarar mais um confronto na Copa do Mundo, comecei a sentir uma forte dor no corpo, uns calafrios de febre, 38º C.

No seguinte, enquanto os nossos atletas goleavam a Coreia do Sul, confirmei o que já suspeitava: o maldito vírus me pegou. Nem precisei ir ao médico. Comprei o teste caseiro vendido na farmácia, eu mesmo verifiquei. E a comemoração da vitória foi menos empolgada do que eu gostaria.

Não que estivesse me sentindo muito mal. Os sintomas se resumiam a um desconforto físico, náusea, febre que ardia assim que passava o efeito da Dipirona. Por sorte, o olfato e o paladar não foram afetados, como costumam se queixar a maioria das vítimas dessa pandemia. Ao menos não me privei do gosto dos alimentos. Só a perda de apetite me atrapalhou um pouco, mas sem muitas consequências, pois normalmente não posso ser chamado de glutão.

Felizmente, eu estava com a vacinação em dia, as quatro doses pontualmente aplicadas no braço. Nesse início de moléstia viral, a indisposição se estendeu, mais preguiça e sonolência do que dor. Vontade de dormir, que aliás, não considero nenhum grave contratempo, considerando minha condição de feliz aposentado.

O problema é que, fora a dormideria, não encontrava ânimo para mais nada. Nos dois primeiros dias, ainda me distraí assistindo os jogos da Copa, mas já na quarta-feira, veio o interregno nos embates futebolísticos. E por mais que o sono me dominasse, esse domínio não durava mais do que poucos minutos. Eu já acordava e me deparava com o tédio de não ter nada para fazer além de esperar. Sobrava o recurso da leitura, que também não se mostrou muito eficiente, porque ao fim da primeira página eu caia por cima do livro, acordava pouco depois sem lembrar nem o nome do personagem da história.

A arte de calibrar a dosagem do remédio para manter os músculos aliviados sem comprometer o estômago é um exercício árduo para quem está em estado de letargia, inapetência total, mas não deixa de ser algo digno de se ocupar. Quem já tomou Dipirona em comprimidos sabe do que estou falando.

Nesses dias de concentração das seleções brasileira e croata, eu me concentrei em várias coisas ao mesmo tempo. Um pouquinho em cada uma. Mais para preencher o tempo de convalescente do que por algum interesse genuíno. O único fato digno de nota nesse período ocorreu justamente poucos minutos antes do jogo. Me refiro ao anúncio, pelo Lula, dos primeiros Ministros a comandarem o país a partir de primeiro de janeiro. Mas, como me propus a não falar de política vou pular esse ponto. Até porque, em seguida, começou a disputa tão esperada.

Meio dia em ponto, engoli meu almoço e corri para a frente da televisão, já bem animado, esperando os gols brasileiros para cair na dança do pombo junto com os jogadores. Aliás, essa história de criticar os nossos craques por executarem a dancinha comemorativa, que seria um desrespeito aos adversários, é uma grande bobagem, coisa de gente mal-humorada. Eles não sabem que o Brasil é o país do futebol, da festa, da alegria? O brasileiro se diverte até em velório, que dirá na hora de festejar um gol da Seleção.

Então eu esperei ansioso, com um copo de suco na mão, porque a cerveja estava proibida, não só na Catar, mas aqui em casa também. E não houve o que celebrar durante toda a partida. Veio a prorrogação, o nervosismo em estado mais crítico do que o efeito de qualquer vírus. Eu já imitava o Galvão Bueno, haaaaajaaa coração!

Até que enfim, a esperança do Hexa surgiu, uma revoada de pombos saiu esvoaçantes dos pés do Neymar, aquele 100% Jesus. Cheguei a pensar que o próprio Salvador tinha baixado naquele momento para interceder por um devoto tão dedicado. A essas alturas eu já estava até virando crente, fazendo promessa de subir de joelhos a escadaria do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Só ia depender de uma oportunidade que me levasse à cidade maravilhosa. Mas deixa pra lá, não seria mais necessário, um jogador da Croácia, cujo nome não lembro, estragou tudo.

Agora, é esperar pelo Hexa em 2026 e torcer para que daqui a quatro anos não exista mais Covid, nem surja outra praga que estrague a vida da gente. E se surgir, não será uma tragédia tão grande porque, a partir de janeiro de 2023, teremos novamente um Ministério da Saúde, tratando da saúde pública dos brasileiros. Como todos sabem, nos últimos quatro anos, não tivemos uma autoridade que atendesse às necessidades sanitárias da população, além disso…

Já ia esquecendo que não queria enveredar pela política. A gente até tenta falar de outro assunto, mas aí, uma ideia puxa outra. E a Seleção Brasileira também não ajuda muito. O que importa é que sobrevivemos à Covid e à Seleção Brasileira, seguiremos em frente. De cabeça erguida, confiantes nas próximas vitórias, mirando o Hexa e a vida saudável. Porque, contra o vírus da derrota, ainda não inventaram uma vacina.

Photo by Kristine Wook on Unsplash