Revivendo Londres – Final. vista Panorâmica

O mês de junho chegou. E com ele, o fim da brincadeira, hora do retorno. Não vou negar que já sentia no peito um pouquinho de saudade do meu lar. Em contraste, um desejo muito grande de continuar, o que demonstra que a excursão foi boa. Voltei pra casa com o vocabulário enriquecido, e o ouvido menos refratário a sons estranhos.
Mas, no que diz respeito à minha carência mais gritante, aquela de que falei no primeiro texto, a que me despertou um anseio por readaptação, não sei se os resultados foram assim tão satisfatórios. Durante os quarenta e cinco dias que andei pela cidade, não abri mão dos meus livrinhos com mapas. E, eventualmente, me socorria de um transeunte para me orientar, quando as informações escritas eram insuficientes. Nem em sonho sucumbi à tentação de comprar uma daquelas maquininhas cheias de teclinhas, que transformam as pessoas em seres hipnotizados, vagando como sonâmbulos pelas ruas, se batendo umas nas outras. Em algum momento, confesso, quase admiti que, quando regressasse ao Brasil, ia querer pelo menos um celular comum, desses que se usa só pra falar mesmo. Mas, felizmente, isso foi um acesso passageiro, provável efeito do tal clima londrino.
Por outro lado, não consegui escapar da sina de turista. É que refleti melhor e concluí que não é necessário ser tão radical assim. Agir como um caipira deslumbrado até tem lá sua graça, pelo menos para intensificar as sensações vividas. O importante não é se manter rígido a uma postura supostamente mais autêntica, e sim transitar entre as várias possibilidades que uma aventura no exterior nos oferece. E com esse álibi, nos fins de semana me perdia no meio da horda de embasbacados com suas câmeras fotográficas; visitei museus e galerias, sem ignorar as indefectíveis lojinhas na entrada de cada monumento. Ultrapassei fronteiras temporais ao contemplar obras de artistas medievais na National Galery; senti arrepios pela espinha ao observar as múmias egípcias no British Museum; me encantei ao ouvir um Concerto de Branderburgo, de Bach, na igreja Saint Martin in the Fields; e, obviamente, minha Canon deu muitos clics. É claro que não fui ao extremo de fazer pose junto ao oficial da guarda do Palácio de Buckinghan para uma foto inesquecível, o que significa que meu senso de ridículo se manteve em bom estado.
Mas o que me dava mais prazer mesmo era andar a esmo e encontrar por acaso algum lugar interessante. E as caminhadas mais gratificantes sempre foram pelas margens do Tâmisa, onde a cada passeio sempre havia uma nova surpresa. Foi assim que achei o Globe Theatre, onde Shakespeare mudou os rumos da cultura ocidental; e o Gordon’s Wine Bar, presença obrigatória para qualquer enófilo assumido. E entrei em muitos bares e restaurantes, onde provei iguarias desconhecidas; bebi muita cerveja e vinho, tomei muitos cafés enquanto descansava as pernas para continuar a exploração aleatória. É claro que tudo tem um lado menos glamoroso. Também padeci algumas porções de fish’n chips, a comida mais horrorosa que já engoli em toda a minha vida, que só se iguala, em termos de sabor desagradável, ao café londrino, uma coisa que deveria deixar os ingleses envergonhados.
Hoje, passados alguns dias, já imerso novamente na rotina porto-alegrense, o balanço é positivo. Numa outra perspectiva, assim como quem admira a cidade numa vista panorâmica lá do alto do London Eye, estou convicto de que valeu o investimento. Quanto àquela proposta inicial, ainda estou em fase de avaliação, mas creio que o essencial foi essa descoberta da necessidade de mudar em alguma coisa. De qualquer maneira, já estou pensando na próxima viagem

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